61 anos!!!
Feliz Aniversário pra mim.
Como todo mundo sabe, adoro escrever historias.
Então, no meu aniversário, não poderia falta a crônica da minha vida "em cor de rosa"....
Difícil acreditar que já vivi 61 anos. Mais da metade com certeza do que terei nessa existência.
Até meus 15 anos, vivi uma infância típica de cidadezinha do interior, subindo em árvores, nadando em rios, brincando de bola queimada nas ruas sem asfalto, passando férias na fazenda, onde não havia nem luz elétrica.
Daí talvez a necessidade de desenvolver bem cedo a minha luz interior..... rsrsrsrs.
Na fazenda, passava o dia brincando na beira dos córregos, e a tarde tomava banho de chuveiro de lata; a água, esquentada no fogão a lenha, e as toalhas, feitas dos sacos de farinha S. Jorge. Branquinhas, depois de lavadas, quaravam no secador feito de trepadeiras. Nossas roupas secavam ao sol, entre flores...
À noite, à luz de lamparinas de querosene, jantávamos a comidinha da tia Fia, e nos servíamos no rabo do fogão, que era mais baixinho, onde as panelas de ferro ou barro
guardavam, quentinhos, o angu, o quiabo, o franguinho caipira, ou a carne de porco de lata. Sabores que permanecem na memória afetiva, apesar dos conceitos terem mudado....
Num canto da enorme cozinha, o tacho de doce de leite borbulhava; A água, bebíamos do pote de argila, onde todos enfiavam a mesma caneca, que era depositada num prato de ágata branca, na cantoneira de madeira escura.
Ninguém pensava em germes, lâmbrias e outros bichos...
Eu dormia com minha irmãzinha e minhas primas numa cama de casal, colchão de capim, depois de ouvirmos estórias de assombração contadas pelos tios, que pareciam ter prazer em nos meter medo.
Nunca tive medo de assombrações. Saia escondida a noite para checar se havia mesmo uma mula sem cabeça ou um saci espreitando lá fora; voltava e recontava as estórias para os menores, sentindo- me, então, empoderada (e no controle). Dessa forma, acalmava meus disfarçados anseios, que muitas vezes foram gerados e "confirmados" pelo ranger de uma porta velha, ou por janela, cuja tramela se soltara com o vento, fazendo com que ela se escancarasse de repente no meio da noite...me dando "a certeza" da existência dos fantasmas...
Fantasmas que, se existem, a mim nunca se mostraram, talvez temam eles a mim por minha desvairada coragem...
Essa coragem, porém, é herdada.
De Pai e Mãe.
Mamãe corria o sertão desafiando o patriarcado desde cedo.
Amava pescar e vivia a beira de córregos e rios, numa época em que era muito comum se deparar com sucuris, cascavéis e jararacas cruzeiro....
Uma vez assistiu a uma cena em que uma jaracuçu atravessava tranquilamente por cima da barriga de papai, que cochilava enquanto esperava ela pescar...
Viu papai acordar e, calmamente aguardar a bicha passar....
Eram muitas histórias de cobras e outros bichos, como onça e javali, além das lendas da mãe do ouro, do curupira e da mãe d' água....
Assim mesmo, nada segurava a molecada, que, de cedo até a hora do almoço, andava pela mata, protegidos apenas pelas orações das mães, e pela própria ingênua inconsequência. Dizem que Deus protege os incautos. E protege mesmo. Até hoje agradeço pela porção extra de bençãos recebidas diariamente....
Aos 15, fui passar um ano nos States, como estudante de intercâmbio. Minha teacher, Neide Romani, adivinhou em mim algum talento que eu mesma ainda desconhecia, mas que tem se revelado ao longo dessa minha caminhada.
Confiou em mim a professora, e também meus pais, que me entregaram ao meu destino sem demonstrar apego, hesitação ou qualquer tipo de controle.
A única pessoinha que quis me impedir de partir foi minha irmã Maria Olimpia, na época com 10 anos. Gritava comigo como gente grande, inconformada pelo meu desapego, e questionava meu amor pela família. Mal sabia ela que eu questionaria o seu amor por mim, quando, aos 23 anos, partiu para sempre, me deixando num vazio difícil de preencher até hoje....
Aos 18, fui para São Paulo estudar.
Frequentei faculdade formalmente, mas a escola da vida era toda a cidade de São Paulo, onde vivi outras tantas histórias, muitas escritas a punho, e guardadas nas gavetas do tempo.
Foram muitos anos lecionando inglês e fazendo das minhas aulas verdadeiras sessões de terapia.
Meus alunos sempre me dizendo:
Você devia ter feito psicologia...
Tarde demais pra fazer outra faculdade, já que não sou muito fã de disciplina, mas ainda em tempo para fazer os cursos das técnicas integrativas, que puderam ajudar a mim e a outras pessoas nesse caminho do autoconhecimento.
Caminho esse traçado em solitude, mesmo quando acompanhada, porque para ser de verdade, é assim que tem que ser.
A grande vantagem, acho eu, é que o "projeto da arquitetura" é sempre próprio; então, é você quem decide se, no desenho que faz, coloca mais pedras, mais flores, ou mais espinhos.
Se possível, para torná-lo válido e real, devemos permitir um pouco de cada coisa, sem nos apegar demais aos espinhos.
As pedras, essas podemos contornar, como as curvas feitas pela água num regato, transformando a falta de simetria e os constantes desequilíbrios em beleza organizada, como quem, driblando a própria ignorância, sempre alcança os objetivos traçados ainda no mundo espiritual, antes de embarcar nessa insólita viagem.
Sem falsa modéstia, sem arrogância, e também sem qualquer tipo de inibição, assumo que sou mesmo uma jóia rara, como já me chamaram.
Nem melhor, nem pior do que ninguém. Mas rara!
Porque essa é a minha história!
Quem quiser checar, vem aqui, conviver um pouquinho comigo, e receber um cadinho daquilo que merecer ter de mim.
Basta abrir bem os ouvidos para minhas tantas histórias, fechar os olhos e se deixar conduzir pelos caminhos que os seus próprios sentidos te levarem, mas ainda assim dentro desse meu Reino Encantado, onde tudo tem o toque inesquecível do amor, que juntei ao longo dessa minha jornada...
Então, hoje, celebro meu aniversário de 61 anos, agradecendo sempre ao Criador, por estar viva, por me permitir estar aqui nessa época tão preciosa, onde podemos, não apenas caminhar placidamente, mas correr, saltitante, rumo ao futuro, por essa estrada que está, a revelia de muitos, nos conduzindo, sim, a uma nova terra....
Gratidão!!!
Maria de Fátima Gouvêa
13 de Julho de 2020